segunda-feira, 1 de julho de 2013

Acho que me habituei aos golpes da vida

Por tantos motivos e porque já foram tantos que nem interessa discorrer sobre eles até porque desprezo profundamente quem se vitimiza. O que me leva a escrever este texto nem é tanto porque me dói a alma, como se diz. Escrevo porque tenho esperança que, se as palavras me sairem pela ponta dos dedos, deixem de viver dentro de mim. Não me custam mais do que aos outros as dores de crescimento que a vida me proporciona, não sofro mais do que ninguém e tenho tido uma vida priveligiada em numerosos aspectos. Tento concentrar-me nisso, mas há dias que não me é possível estar bem sem um esforço substancial. Hoje, por exemplo. Gostava que as famílias viessem ao mundo como uma unidade, com uma quota parte de vicissitudes associada e que os elementos se fossem revezando, acolhendo as dores dos outros quando a vida exagerasse e tivesse sempre na mira a mesma pessoa. Não teria problema em doar alegrias e aceitar golpes dos meus. A minha mãe é a mulher mais lutadora que conheço, é a mais corajosa, é a mais trabalhadora, é a mais amorosa, é a mãe que nasceu para ter filhos e que me deu a enorme felicidade de ser amada por ela. É a mulher que me faz saber como é ter um porto de abrigo, é a pessoa a quem recorro quando o chão me foge debaixo dos pés e é ela que me acolhe sempre, sem julgamentos, num colo imenso onde me sinto sempre segura, onde os problemas não chegam e onde encontro sempre a força que por vezes teima em fugir de mim. Não tenho dúvidas do orgulho que ela sente por mim e crescer com a certeza de um amor imenso, tenho certeza, tornou-me mais apta para a vida. Mas a minha mãe, apesar de tudo o que é, de tudo o que faz e de tudo o que merece, não é a pessoa mais abençoada que conheço. Acho que nunca a vi viver despreocupada. E quando me chega a notícia que a minha avó está internada, quando chega o diagnóstico de um tumor, quando se ouve que é maligno, quando já nos sentimos cansados destes casos, quando já nem reacção temos de tanto conviver com esta doença, não me dói só a possibilidade de perder a minha avó, dói-me muito mais o facto da minha mãe perder a mãe dela. A minha avó não foi a mais ternurenta, a minha avó não teve a vida mais feliz nem ensinou à minha mãe aquele amor incondicional e eterno por um filho. Mas é minha avó, mãe da minha mãe. E há dias, semanas, que são uma merda pela merda que é sentirmo-nos impotentes. E a minha mãe merecia uma vida sossegada, merecia um verão cheio de sol, merecia fins de semana cheios das netas e de descanso. A minha mãe merecia que a mãe dela tivesse uma velhice tranquila, merecia anos e anos de pazes com o passado, não fosse a vida teimar em pregar-lhe rasteiras destas.

8 comentários:

T* disse...

Muita força para ti, para a tua mãe e para a tua avó.
Que tudo corra pelo melhor, beijinhos!

A Madeirense disse...

Nem tenho palavras. Lamento muito...

Risota disse...

Realmente há coisas que nos fazem sentir terrivelmente mal pelas situações em si e pela impotência que sentimos.
Não podemos fazer nada para minimizar o sofrimento de quem amamos e ainda por cima estamos tão longe!
Arisca, já te "vi" passar por momentos complicados (aliás, foi assim que te comecei a ler) e não há muito que te possa dizer.
Tenta fazer um pouco de mãe da tua mãe e dá-lhe todo o carinho que for possível (mas eu nem precisava de te dizer isto).
E para ti um abraço e um miminho virtual

Arisca disse...

T*, obrigada!

Madeirense, nunca se tem nestas alturas. Obrigada.

Risota, é aguentar, não tenho outra saída.

Dani disse...

Um abraço bem apertado há tua mãe e que tudo corra pelo melhor com a tua avó. A tua mãe tem a sorte de te ter como filha. Um beijao para ti

Arisca disse...

Dani, obrigada! És uma querida.

*S* disse...

Estamos no mesmo barco, infelizmente. Vai tudo correr pelo melhor, tem de correr né? Um abraço apertadinho do tamanho do mundo!!!
Beijoca

Arisca disse...

S, quando te li e comentei na altura em que tinhas recebido notícia semelhante, estava longe de imaginar que agora era comigo. Um abraço enorme também para ti :)

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