sábado, 27 de abril de 2013

E agora uma coisa mais séria que já ando para escrever há uma data de dias mas não tive tempo e que não vai interessar a quase ninguém mas que me dá tremeliques nos olhos e alguns espasmos na boca

Depois os estúpidos são os investigadores, essas bestas cruéis que se regozijam com a crueldade animal. Essas bestas, que se dedicam à cura de doenças ou à procura de novos tratamentos (é dessa investigação que falo, aliada à medicina, não me venham cá falar de cremes e merdas que não tenho pachorra e sou contra o uso de animais para esse fim), só se dedicam a essa má vida porque curtem bué ver animais a sofrer. São, claramente, seres deformados e muito piores pessoas que o resto da humanidade, aquela que, na maioria, condena a investigação mas não hesita em mamar um ben-u-ron quando dói a cabecinha ou fazer radioterapia e todos os tratamentos possíveis quando lhe foi diagnosticado um cancro, ou que avia a medicação para a artrite reumatóide do pai, ou para a epilepsia de ausência da afilhada sem pensar duas vezes. Ah, mas espera lá, essa sou eu. Grande porca que, além de trabalhar em investigação, ousa tirar partido do que a ciência faz por todos. Puta. Bem, o texto já vai longo mas estou a falar disto. Eu sou toda a favor de quem defende uma causa. Eu própria defendo a minha, com unhas e dentes, sonho com um bem maior todos os dias, sonho com a cura de tantas doenças, sonho com filhas que não perdem pais a não ser para a velhice, sonho com velhos que não esquecem a sua história à conta da Alzheimer, sonho com milhões de vidas poupadas quando se vencer a malária, sonho com pessoas que não morrem de septicemia nos hospitais depois de tudo já parecer estar bem, depois dos seus já estarem a preparar a casa para os receber. Sonho com tanta coisa que nem sei como cabe tudo em mim, mas sonho. Por isso respeito quem seja apaixonado como eu na vertente oposta, mas que seja informado. Que não seja só extremista e estúpido, que não seja uma besta maior do que a besta que querem fazer de mim. Eu já participei em conferências sobre alternativas à experimentação animal, quando for viável, não tenho problemas em trocar de vida. Mas não é. Não é! O que o artigo diz, para quem não se dá bem com o inglês é, basicamente, que um grupo de activistas invadiu uma universidade em Milão e se barricou lá dentro. Recusaram-se a sair a menos que levassem consigo animais para libertar. No fim, estas mentes iluminadas libertaram ratinhos nude, extremamente imunocomprometidos (com sistema imunitário débil), que acabaram por morrer em simples contacto com o exterior. Boa! You go activists! Tivessem estes animais continuado em experiência, e morreriam de forma mais humana, assim foi mesmo em agonia, está benzinho. Não satisfeitos, estes queridos ainda andaram a trocar os cartões experimentais que identificavam os animais, confundindo os protocolos. Passarão anos até aquela universidade recuperar o trabalho todo. Muitos dos modelos animais que existiam eram de doenças psiquiátricas como o autismo e esquizofrenia. Reparem, sejam pela causa que quiserem, mas não sejam ignorantes. Isto não foi um avanço de merda nenhuma, não ajudou a consciencializar ninguém para o quer que seja, não foi civilizado, não foi digno e fodeu o trabalho de pessoas que, como eu, andam a dar o litro para que pessoas como vocês possam viver mais e melhor. Pensem nisso. 

11 comentários:

Anónimo disse...

Podes ter muita razão no que escreves Arisca, mas continuo a pensar experiência em animais não são correctas, dói-me por demais o coração de pensar nisso. Compreendo o teu ponto de vista, afinal é o teu trabalho... Mas continuo a achar que não é correcto fazermos dos animais o que nos apetece, sempre que vejo imagens de experiências/testes vêm-me as lágrimas aos olhos.

Arisca disse...

princesadepantufas, não é um trabalho, lá está! Quem está na minha área não foi à procura de um ganha-pão, foi atrás de uma paixão. Também te compreendo mas, se o teu cão precisar de uma operação que lhe salve a vida, hesitas? Se tiver um tumor e precisar de tratamento, tratas ou deixas a natureza seguir o seu curso? Se precisar se medicado por uma qualquer condição, medicas ou ficas quieta. Levas ao veterinário e proíbes o uso de anestesia? Vacinaste-o? Não é só nas pessoas que a investigação animal foi necessária. Muita medicação veterinária resulta de estudos que não puderam ser extrapolados para a população humana mas que é muito útil em medicina veterinária. Se o teu gato tiver de ser operado, vai sem anestesia e deixas recuperar sem analgésicos, a agoniar de dor? Coisas para pensares, apenas :)

Pusinko disse...

Aos invasores da uni de Milão 1 verso: filhos da puta, o karma há-de apanhar-vos.

Há uns 10 anos fizeram isso na uni de Amesterdam e o trabalho perdido foi incalculável, além de terem libertados mutantes e imunodeprimidos ao ar livre. hurray.

Quanto ao resto do texto sim senhor, estou de acordo e só queria que quem defende a investigação sem recurso algum animais seja capaz de não tomar medicação nenhuma e optem por gotinhas/florais de Bach para equilibrar as maleitas. Vamos ser coerentes, só isto.

Eu não concordo com testes animais para cosméticos por isso uso body shop, boticário e outras marcas amiguinhas das minhas convicções.
Às vezes decido diferente, mas também o faço de forma consciente e mea culpa.

Enfim, há abraça-árvores muito mais violentos do que a violência que atribuem aos cientistas. Falam e agem como se lá dentro de usassem máquinas de tortura da idade média em tamanho lego para desconjuntar animais guardados em caixas à espera do seu holocausto e gerar orgasmos de sadismo nos investigadores por esse mundo fora.

Arisca disse...

Ah, e não me iludo, eu defendo a investigação animal como eu a faço. Como a minha instituição a defende, e tantas outras. Com o bem-estar animal acima de tudo. Com muitas horas de sono perdidas a pensar em como minimizar sofrimento. As pessoas pensam que temos animais moribundos à frente dos olhos, que lhes infligimos dor à toa, que não cuidamos para que estejam bem, que quando adoecem estejam o melhor possível, que morram da forma mais humana. As pessoas, no geral, vêem vídeos de crueldade animal, sim, de laboratórios de merda e pessoas de merda (que as há, até as que têm animais de estimação de na rua amam e em casa tratam ao biqueiro) e generalizam, acham que investigação é toda igual, que é toda brutal, que é toda cruel. Não é. Faltava-me acrescentar isto. Também já vi vídeos de maus tratos em infantários mas quando tiver um pirralho, vou ter de recorrer a um. Generalizasse e não confiava em nenhum. É um exemplo parvo mas é um exemplo.

Buu disse...

Bolas, concordo tanto com este post. As pessoas têm sempre a mania de falar quando não sabem, ou quando acham que sabem e ao fim e ao cabo não sabem nada. E esta intervenção foi simplesmente ridícula. Percebo a preocupação deles, sim, mas seria muito melhor aproveitada se fosse direccionada em tentativas de descoberta de alternativas aos testes. Reclamar é muito lindo e fácil. Estou como tu: ignorantes.

Arisca disse...

Pusinko, exactamente. Há muita confusão entre investigação em modelos animais e crueldade animal. Eu gosto de animais. Toda a gente que trabalha comigo gosta tanto de animais como a vizinha do lado, senão mais. Não somos seres inferiores nem tiramos prazer do sofrimento animal (o que existir, reparem). Tiramos prazer de imaginar o nosso pai curado de uma artrite que o limita, de nos vermos saudáveis porque vencemos um cancro graças a quem antes de nós fez por nós o que eu faço pelo futuro. Eu respeito, mesmo, quem defende o contrário, só tenho muita pena mesmo que quando se fazem reportagens em biotérios não haja a coragem de mostrar tudo. Eu mostraria com muito orgulho tudo o que faço. Infelizmente, a crença geral era capaz de me crucificar porque, coitadinhos, os animais até estão privados de liberdade, estão em gaiolas, por exemplo (argumento que ouço regularmente. Como o piriquito lá de casa ou o são bernardo com quem dividem um apartamento de 50 m2. Enfim... já me estou a estender. :)

Arisca disse...

Buuu, eu estou sempre atenta às alternativas à experimentação animal. Sei de todas, sei dos modelos virtuais, conheço o que existe à data de cor e salteado. Não há ainda nada que substitua o uso de modelos animais que seja extrapolável para a população humana. Ponto. Quando houver, sou a primeira a mudar.

Dani disse...

Eu sinceramente vejo a experimentação em animais como um mal necessário e não me faz confusão. É um trabalho com um objectivo humanitário, a cura de doenças, doenças essas que nós afetam e afetam os nossos familiares.
Quanto a ti Arrisca, quanto menos explicações melhor, há pessoas que nunca vão entender. E sim, também acho uma crueldade ter um animal de estimação preso um dia inteiro sem condições, mas como é giro mostrar aos amigos, as pessoas não se lembram disso.

Arisca disse...

Dani, eu nunca me canso de discutir ideias, de explicar o que faço, de defender porque o faço. Preciso é que discussões saudáveis e detesto pessoas extremistas como o caso desses activistas. Isso e de coerência, também gostava que as pessoas fossem coerentes.

Maria do Mar disse...

Hoje correm a atacar-te porque experimentas em animais, mas se vem daí a cura do cancro até que te bajulam e chove gente a recorrer ao método.

Quem não sabe é como quem não vê. E as pessoas adoram apontar o dedo muitas vezes na ignorância.

Eu acho que todos têm direito à sua opinião, mas devidamente fundamentada. E não, eu não sou uma qualquer geniozinho enciclopédico, e são mais as coisas de que não percebo, do que aquelas nas quais me sinto à vontade para opinar. Mas então não embirro que vomito verdades, e quando opino tenho de assumir que falo sem certezas, e sujeitar-me à margem de erro naquilo que digo. E mais do que isso, tenho de estar disposta a ouvir quem sabe do que fala, e a mudar de opinião depois de reposta a realidade das coisas.

Consigo compreender quem diz ser intuitivo sentir uma arrepio e pensar que os teus ratinhos nude podiam ter um final mais feliz. Mas dizem isso quando de facto não sabem o que se passa. Ouvem dizer, vêem em fontes pouco credíveis e acusam sem pensar duas vezes. Julgam muitas vezes sem fazer pesquisas nem procurar informação. Dizem que é mau e feio porque a nas Tardes da Júlia houve tertúlia cor-de-rosa sobre experimentação animal.

É da natureza humana este egoísmo do pensamento e esta construção social constante. As ideias difundem-se erradamente e quando se vai a ver há alpes suiços de bacoradas a sair da boca de comuns ignóbeis.

E atenção, ressalvo que eu não falo sempre certo. Às vezes também sou abanada por não estar certa naquilo que digo, mas acho que o princípio ao entendimento é a humildade necessária para assumir uma possível mudança (não confundir com conformidade).

Arisca disse...

Maria, a minha esperança é na flexibilidade das pessoas, como a que acabaste de demonstrar. É na crença que as pessoas gostam de aprender, de saber, de perguntar. Ainda acredito nisso apesar da minha experiência ser outra. E, relativamente à falta de informação, eu culpo as instituições que, por medo dos tais extremistas (e com a sua razão porque os estragos que podem fazer são incalculáveis) acabam por não abrir totalmente as portas, por não ilucidar tanto quanto gostariam, por não mostrar o que fazemos e com a garra que fazemos.

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