quinta-feira, 4 de julho de 2013

Por vezes tenho medo de já "não ter coração".

Não fosse por encostar a mão no peito e senti-lo bater, teria medo de morrer a qualquer momento. O meu coração faz o que é suposto, bombeia o sangue para onde é preciso e mantém-me por cá, funcional e saudável, sem culpa nenhuma das maleitas que pertencem à cabeça. Falha-me vezes de mais, o cabrão. Fica facilmente descompassado e cai-me ao chão a troco de tudo ou de quase nada. Falha-me, de facto, mas não carece de ser trocado. É o lado emocional que insistimos em impingir-lhe que me preocupa. É aquela coisa do aperto no coração, aquilo dos sentimentos sufocantes, aquilo de dizer que é no coração que se sente a tristeza, que é lá que mora a mágoa e é ele que nos avisa quando o chão desaba e nos engole. De nada nos vale o coração, mas é porque ele bate mais rápido ou porque ele pára de repente que vou dando pelas valentes bordoadas que tenho levado. E pelas alegrias também, admito. De qualquer forma, continuo aqui ralada, convencida que não tenho coração porque sorrio com convicção quando me apetece chorar. Preocupa-me que seja amputada de uma qualquer fracção da humanidade que me pertence quando, acabada de receber uma notícia francamente infeliz, justifico os olhos marejados com alergias que nunca tive e sorrio e brinco para dissipar o constrangimento de quem me encontrou assim, desmoronada. É a convicção com que fingo alegria que me preocupa. Precoupa-me a facilidade com que faço toda a gente rir, com que eu própria me rio e preocupa-me ainda mais a necessidade que tenho deste trabalho que me absorve a vida mas que me leva os problemas e os troca por outros, mais tangíveis, entre as 8h00 e as 17h00, fora horas extra. Tirando os momentos em que me fecho numa sala a escrever sobre isto, como agora, ou quando ouço músicas que me lembram das tardes na varanda da minha avó ou quando acordo a meio da noite sufocada com a ideia que não a terei cá no próximo Natal e que as previsões são um tiro certeiro em qualquer esperança que exista, tirando outro milhar de momentos que agora não me ocorrem, eu não me posso queixar.

6 comentários:

м disse...

está difícil! :x força!

xaxia disse...

Perdi a minha avó no Verão passado. Por muito estranho que pareça, a minha avó não era velha, e até ter um AVC que a atirou mais de dois meses para uma cama de hospital, acabando por morrer, falávamos todos os dias. Durante esses dois meses e meio todos os dias ia falar com a médica ao hospital, e todos os dias ela me perguntava se tínhamos consciência que era grave e que não estava fora de perigo...E então fiz tudo o que podia por ela. Visitei-a todos os dias o máximo de tempo que conseguia, dava-lhe beijinhos e festinhas, falava com enfermeiros e médicos e fisioterapeutas, forçando os melhores cuidados e zelando pelo bem estar dela, e dizia quanto a adorava. Quando morreu, fiquei numa tristeza imensa que ainda dura, mas consolava-me o facto de ela ter morrido a saber o quanto a amava.
Desculpa tanta conversa.
Beijinhos e força

Arisca disse...

M, está. Obrigada.

xaxia, foi bom ler o que disseste, obrigada. Espero ter tempo para fazer o mesmo. A distância é que não ajuda e cada vez que o telefone toca, percebemos isso mesmo. Mas hei-de arranjar alternativas. Beijinho.

Risota disse...

Como eu te entendo com a distância.
Eu não estou tão longe dos meus como tu mas é igual.
O ano passado passei por uns meses terríveis com o meu pai quase, quase a patinar (como ele diz).
E a distância quase que me desorientava.
Faz-se o que se pode e embora possa parecer pouco, é sempre alguma coisa.
Tens de tentar ter calma (se é que é possível)
Beijinhos

Arisca disse...

Risota, o problema é a culpa. é difícil de digerir, e por mais que saibamos que não a temos, ela consome-nos. Fiz as escolhas que quis para poder trabalhar na área que gosto, mas isso trouxe-me para longe da família e nestas alturas não é fácil. Beijinho.

Unknown disse...

:( Não há muito a dizer se não força e aproveita os momentos que restam!

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